O Uso Político de Informações Falsas Durante a Crise no Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul enfrenta atualmente a pior enchente de sua história, com 80% dos municípios afetados pela maior catástrofe climática já vista no estado. Enquanto muitos se mobilizam para realizar resgates e doações, uma verdadeira indústria de fake news tem atrapalhado o trabalho dos voluntários e das forças governamentais, impactando diretamente nas operações de salvamento.
O receio é que notícias falsas, como a de retenção de doações e o transporte de oxigênio, causem mais apreensão na população já fragilizada por essa grave situação. Tamanha é a seriedade do problema que o governo do estado precisou criar uma força-tarefa para checar e desmentir as desinformações, chegando ao ponto de o governo federal pedir uma investigação para identificar os autores dessas notícias falsas.
O Negacionismo Climático da Extrema Direita
Essa disseminação de fake news não é uma surpresa, pois faz parte de um padrão de comportamento da extrema direita no Brasil. Um dos elementos centrais que organizam esse campo político é o negacionismo climático - a negação de que a ação humana está causando mudanças no clima, algo comprovado cientificamente.
Ao mesmo tempo em que diversos setores buscam combater as mudanças climáticas e proteger o meio ambiente, a extrema direita brasileira, especialmente o campo bolsonarista, tem se construído com base nessa negação da crise climática. Isso significa que, quando eventos climáticos extremos como as enchentes no Rio Grande do Sul ocorrem, esses grupos políticos têm a prática de disseminar informações falsas, utilizando as mesmas redes e estratégias que usam para propagar seu negacionismo.
Falhas na Comunicação e Resposta do Estado
Porém, a propagação dessas fake news não se dá apenas pelo campo político negacionista. Existe também um problema estrutural no sistema de comunicação e resposta do Estado diante de tragédias climáticas.
No caso do Rio Grande do Sul, a comunicação sobre evacuações, medidas de segurança e ações de socorro tem sido falha e emergencial, sem um planejamento estratégico adequado. Isso cria um vácuo que é rapidamente preenchido pelas narrativas falsas da extrema direita, que encontram espaço para se propagar diante da falta de informações confiáveis chegando à população.
Esse problema se agrava ainda mais quando se constata o desmonte de estruturas municipais e estaduais voltadas à prevenção e resposta a desastres climáticos nos últimos anos. Sem uma comunicação efetiva e um sistema de alerta bem estruturado, a população fica vulnerável às fake news, enquanto os grupos políticos negacionistas conseguem aproveitar a situação para propagar suas narrativas.
O Perigo de Políticos Negacionistas no Poder
Essa combinação de fatores - a prática de disseminação de desinformação pela extrema direita aliada à falha na comunicação e resposta do Estado - é extremamente perigosa. Quando políticos negacionistas climáticos ocupam posições de poder, como é o caso de parlamentares bolsonaristas à frente de comissões sobre as enchentes no Rio Grande do Sul, as consequências podem ser devastadoras.
Deputados como Marcel van Raten, que em 2011 negava a existência do aquecimento global, hoje estão à frente de esforços supostamente voltados a solucionar a crise climática no estado. Outros parlamentares da extrema direita, como Eduardo Bolsonaro, chegam a se ausentar do país durante a emergência para participar de eventos internacionais, demonstrando total desprezo pela gravidade da situação.
Essa negligência e priorização de agendas ideológicas em detrimento de ações concretas de prevenção e resposta a desastres climáticos é extremamente perigosa. Ela aprofunda a vulnerabilidade de populações já historicamente marginalizadas, como negros, indígenas e quilombolas, que são desproporcionalmente afetados pelos impactos das mudanças climáticas.
Um Fenômeno Global Que Exige Respostas Urgentes
Infelizmente, essa não é uma realidade exclusiva do Brasil. O crescimento da extrema direita e seu negacionismo climático é um fenômeno global, especialmente acentuado no Sul Global, onde os países têm menos recursos para se adaptar e reagir aos eventos climáticos extremos.
Enquanto a resposta adequada exige planejamento, investimento e ações de longo prazo, a extrema direita consegue oferecer soluções simplistas e imediatas, ainda que baseadas em mentiras. Essa dinâmica se fortalece no contexto do medo e da insegurança gerados pelas crises climáticas, levando a população a se render a narrativas negacionistas.
Portanto, combater a disseminação de fake news e o negacionismo climático da extrema direita é crucial não apenas para salvar vidas durante emergências, mas também para construir um futuro sustentável e resiliente diante das mudanças climáticas. Essa é uma luta que precisa ser travada em múltiplas frentes - desde a melhoria dos sistemas de comunicação e alerta do Estado até o fortalecimento de movimentos sociais e da sociedade civil organizada.
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